sábado, 10 de novembro de 2007

Gentílicos: JEITINHO MOSSOROENSE PARA AMERICANO VER E VESTIR


POR WILLIAMS VICENTE


"Eu saí de Mossoró em 1987 e fui direto para São Paulo morar com o meu irmão, Wilson, que já estava lá há três anos estudando e trabalhando na Folha de São Paulo". Assim, começa a narrativa da história de Júlio César contada por ele.A saga do outrora jornalista tem cheiro de conto moderno, e conhecido até, como dos causos que, vez por outra, ouvimos falar: de gente que corre o mundo atrás da vida e acorda de repente na cidade centro da civilização pós-moderna, fazendo roupas para estrelas de Hollywood.

Depois de trabalhar como arquivista e pesquisador do Banco de Dados da Folha de São Paulo e da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), onde editava o programa Metrópolis, Júlio César quando leu o livro "Verdes Vales do Fim do Mundo", de Antônio Bivar, decidiu ir para Londres estudar inglês. Lá ganhou uma bolsa de estudo do London College of Printing para estudar arte. Mas alguma coisa guardada no passado o despertou para tomar outra decisão e Júlio resolveu, dois anos depois, que era hora de explorar outros lugares. Foi para Toronto no Canadá e de lá para Nova Iorque onde estudou no FIT (Fashion Institute of Technology), a Meca acadêmica da moda em Nova Iorque. Cursou Pattern-making (como fazer forma de roupas em papel para depois fazer no pano, um dos processos da criação de roupas).

De lá pra cá, Júlio carrega nos ombros dez anos dedicados ao trabalho com colagens de pano. "Colagem é a composição feita a partir do uso de matérias de diversas texturas, ou não, superpostas ou colocadas lado a lado, na criação de um motivo ou imagem. Foi utilizada por Picasso e Georges Braque, entre outros. Ela é uma técnica não muito antiga, criativa e bem divertida, que tem por procedimento juntar numa mesma imagem outras imagens de origens diferentes. A colagem já era conhecida antes do século XX, mas era considerada uma brincadeira de criança. O cubismo foi o primeiro movimento artístico a utilizar colagem. Os cubistas colavam pedaços de jornal ou impressos em suas pinturas. A única diferença é que eu uso só tecidos nas minhas colagens e eu uso as colagens na moda para fazer peças únicas (jaquetas, saias, vestidos, etc) ao invés de fazer quadros", conta o agora designer e estilista Júlio César.

Embora carregue influências predominantemente cosmopolitas, Júlio imprime nas obras as referências que adquiriu depois de sair de mochilas nas costas em busca de novidades. E dentro dessa mochila, ele carregou às raízes da origem de sua alma. Passando por pinturas de Jean Michel Basquiat à MPB, Júlio se embriaga de maneira discreta na paisagem do sertão nordestino, onde foi criado. As colagens das peças dão o toque daqueles retalhos que desfilam no corpo do mais tradicional sertanejo. "A minha infância aí em Mossoró foi muito boa apesar de alguns problemas familiares. O meu envolvimento com moda foi cedo, pois os pais do Carlinhos (amigo de infância) eram costureiros e nós estávamos sempre indo de um lado para o outro comprar linha, pano ou alguma coisa que os pais dele precisavam. As sementes foram plantadas naquela época com certeza", revela Júlio.

A pinta de artesanato das proposições do artista encantou e vestiu celebridades como Harry & July Belafonte, Sharry Bronfman e Bill Cosby, e rendeu parcerias com nomes inovadores da moda como Koos Van Den Akker, David Hatch e Alyce Santoro.Os próximos passos de Júlio César serão dados ainda em Nova Iorque. Ele fará a decoração de um apartamento em Manhattan, além de continuar a produzir as colagens de bolsas, cintos, almofadas e roupas usando tecidos desenhados pela equipe do Guggenheim Museum.

A saudade do Brasil ele matará em dezembro quando vai decorar um apartamento em Natal. "Onde eu espero chegar é um pouco difícil de responder, mas quem sabe abrir uma loja em Natal em 2009? Acho que esse é um bom começo. Quem sabe até uma exposição aí em Mossoró?" conta modestamente Júlio César. Enquanto o trabalho do filho pródigo da terra da Resistência não chega por aqui, o leitor poderá acompanhar através do site http://www.juliocesarnyc.com/.

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