sábado, 1 de dezembro de 2007

NO BATICUM DA MúSICA ELETRôNICA DANÇANTE


A nomenclatura música eletrônica se refere a tudo que é utilizado binariamente para produzir música. Poucos se dão conta de que, quando falamos em música eletrônica, referimo-nos ao revestimento que a tecnologia permitiu a produção moderna. Quem conhece Céu, Cibelle, Bebel Giberto, Roberta Sá, Marina Lima ou Kátia B sabe que por trás do samba existe uma atmosfera concretizada a partir dos recursos da E-music. Já no baticum da música eletrônica dançante talvez haja mais com o que se preocupar do que botar o esqueleto para mexer.

Dançante restringe o termo ao som que leva à dança em festas, mais precisamente, neste caso, às raves e movimentos correlatos: cena que pode ser subdividida em incontáveis gêneros.

Da era disco ao final dos anos 1980 quando a música eletrônica dançante ganhou força com a invenção das raves, na Inglaterra, a mídia rejeitou o produto, depois o tombou para gerar o lucro e hoje volta condenar um modo de vida que, no princípio, propunha-se a reunir pessoas que pensavam em promover a elevação do espírito através da música, assim como se fazia nas décadas de 1960 e 1970 sob a ideologia do "paz e amor".

No entanto, há uma inversão de valores erguida pela burguesia alienada de hoje: a rave, que era reflexo da contestação e ambiente para o ouvinte entrar em estado de transe, utilizando como base a transformação do estado do corpo através de batidas seqüenciais, transformou-se em caso de polícia e saúde pública. Obviamente, o estado de transe dos anos 70, ou de hoje, sempre está associado ao uso de elementos adicionais à música, como drogas. E antes que a hipocrisia ataque, a diferença parece estar na consciência do usuário. A década de 70 nao vivi e, portanto, não sei que nível de responsabilidade havia pelos usuários de aditivos. Nos anos 00, a música eletrônica dançante deixou de ser um ideal de revolução para se tornar tripé da experiência irresponsável do ouvinte, e a música deixou de ser o aspecto principal. Por quê?

Freqüentar a cena eletrônica deveria ser, em essência, tirar proveito da cultura underground que, por natureza, valoriza a qualidade em detrimento do apelo comercial. Mas enquanto produto, empresas multinacionais passaram a apoiar raves que tem nas pick-ups Dj's estrelas do underground: paradoxo que virou moda e como moda pós-moderna criou um estilo de vida onde o que vale é desfrutar do prestígio.

O prestígio descabido levou a polícia do Rio de Janeiro, por exemplo, a prender nove pessoas no início de novembro, todos de classe média, que traficavam ecstasy para freqüentadores de raves. O ecstasy é a pílula mágica da vida para quem anda pela cena.

É uma droga de forte apelo e efeito sedutor entre jovens e adolescentes porque dá pique e "elevação de espírito" nas festas que podem durar mais de um dia. Mas o ecstasy é uma droga sintética que pode causar danos aos usuários a longo prazo, como neurodegeneração e perdas de memória, além de desencadear transtornos psquiatricos como a depressão e a síndrome do pânico. Causa também alteração dos sentidos, principalmente tato e audição e pode ser fatal: o consumo da droga, mesmo que seja em pequena quantidade ou eventualmente, causa aceleração dos batimentos cardíacos e super-aquecimento corporal e também um desequilíbrio na concentração de sais minerais do organismo. Comercializada em forma de comprimido, cápsula ou pó, a bala como é chamada a pílula faz o jovem exceder os limites e "fritar", ou ficar muito louco, traduzindo a gíria. E o ecstasy é caro. Uma balinha não sai por menos de R$ 50,00. Talvez isso explique a predileção da classe média pela droga.

Por outro lado, drogas ilícitas em geral nunca estiveram tão baratas. Estudo do Centro Europeu de Monitoramento de Drogas (EMCDDA) mostra que, em cinco anos, a heroína sofreu redução de 45% e a cocaína de 22%. Já a maconha, em Portugal, é vendida a 2,3 euros o grama e a 12 euros na Noruega.

Em Mossoró, a cinquentinha da maconha como é conhecida a barra de 50g, está entre 70 e 150 reais. Apesar do valor, ainda é a droga mais popular e pano de fundo para constatar, obviamente, a ausência de um movimento da música eletrônica na cidade. Este ano, a Delegacia de Narcóticos apreendeu 5.190 pedras de crack e pouco mais de 3kg de maconha na cidade até meados de novembro. No mesmo período, a Polícia Federal apreendeu pouco mais de 56kg de maconha e por volta de 6kg de cocaína. Portanto:

O ecstasy não passou pelas mãos da polícia em Mossoró

A idéia não é condenar a cena eletrônica que mal existe. Aliás, quanto mais música melhor. Para além de associar a música eletrônica à droga, fujo do sensacionalismo da mídia e da repressão para desejar que a cena vingue de forma consciente porque a chegada será inevitável. Antes é preciso que se deixe de circular pelos bastidores das festas, quando raramente acontecem, os burburinhos de que o movimento é GLS. E se vingar, a classe média, ou seja lá quem venham a ser os freqüentadores, devem reparar que, antes do abuso no uso das drogas, há música de qualidade e artistas interessados no respeito.

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