quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Atmosfera: O tilintar cristalino da caixinha de musica de Roberta Sá

Sob o pedicelo do samba, a cantora potiguar emoldura a Música Popular Brasileira com personalidade

Ao contrário da conterrânea e pernóstica Marina Elali, Roberta Sá não emplacou hits nas novelas da Globo, nem precisou de programas dominicais para se fazer notada. A voz cristalina e correta e o talento para compor atraem os holofotes mesmo que ela não queira.
Quando se fala em MPB potiguar não se pode delir também o registro de outras representantes legítimas da terra como Valéria Oliveira, Khrystal, Simona Talma, Luciane Antunes, etc. Adverte-se: comparações entre Marina e Roberta, pelo menos musicalmente e em especial sob o crivo dos fãs, não serão justas. Porém cabe a referencia porque na vida de ambas há coincidências – são potiguares, foram abençoadas com voz bela e se tornaram conhecidas no país na mesma época, depois de participarem do Fama da TV Globo.
As semelhanças, no entanto, param por aí e sem desmerecer a indefinida e indefinível musa-pop-teen-diva Marina que se deslumbrou com a possibilidade da fama e se perdeu na falta de unidade, atirando para todos os lados com um disco que só agrada quem não percebe a diferença entre rock e ópera. Despojada Roberta Sá, por outro lado, sugou do programa as lições e os contatos.
Fato é que Roberta vem ao caso pela impressionante história que escreve na Música Popular Brasileira. Ela sofre de uma maturidade precoce chamada “Braseiro”, lançado em 2004, e “Que Belo Estranho Dia Pra Se Ter Alegria”, de agosto de 2007. Discos que a puseram no topo da lista de “boa nova” da MPB da crítica nacional.
Roberta Sá bebe (nos dois álbuns) na fonte do samba, tanto no caule musical quanto no berço boêmio carioca do ritmo, e quem se embriaga somos nós. Enquanto a quase sempre sublime Marisa Monte resgata a historia e rabisca traços de modernidade em seu “Universo Ao Meu Redor”, Roberta revela um infinito mundo particular com leitura contemporânea da atmosfera inebriante do samba que poucos são capazes de gravar.
“Tudo flui”, dizia Heráclito. Tudo está em movimento e nada dura para sempre. Por esta razão, “não podemos entrar duas vezes no mesmo rio”. Isto porque quando entramos pela segunda vez no rio, tanto nós quanto o rio já estamos mudados. Se o filósofo fosse vizinho de Roberta Sá certamente usaria a cantora como exemplo de sua teoria. Ela não tem pressa de gravar e o que interessa é deixar fluir a intimidade de sua alma com o repertório garimpado com propriedade como se as canções fossem dela ou feitas para ela. A cada faixa Roberta se supera.
Para tanto recrutou colaboradores como Moreno Veloso, Lenine, Ney Mato Grosso, Pedro Luís e misturou ao imaginário de clássicos como Dona Ivone Lara e Martinho da Vila em obra ou inspiração. O resultado é malandragem vocal típica do samba entoando letras que falam de amor e do cotidiano com leveza e humor para expressar a necessidade de humanizar as relações num mundo em que não se dá mais bom dia à porta do elevador.
É gafieria, funk, rap, cavaquinho, bandolim, violão, bossa nova, programações eletrônicas para acabar com o pendatismo alheio:
Roberta Sá não jaz em grupos insossos de pseudo-divas da MPB. Ela faz parte de um seleto e original ambiente de artistas cultos, cultuados pela capacidade de serem donos de si, das escolhas da própria musicalidade.
Roberta Sá é para ser sampleada tal qual Caetano por Adriana Calcanhotto: “Vamos comer Roberta Sá, pelo óbvio, pela frente, pelo verso, vamos comê-la crua”.

Um comentário:

Anônimo disse...

Roberta Sá é uma das melhores cantoras que já conheci, ela é perfeita, realmente, uma cantora completa!
ELa não finge que canta, ela CANTA de verdade, muita técnica, muita emoção, perfeita!
Adoro!!!

Anninha Bueno ♫