quarta-feira, 21 de maio de 2008

Entrevista: José Ronaldo Bezerra de Medeiros

Fotos: Luciano Lellys
Natural de Caicó, onde também foi criado até o início da adolescência, José Ronaldo de Medeiros veio morar em Mossoró em 1982, quando assumiu a direção regional da Caern. De lá para cá, José Ronaldo testemunhou o crescimento vertiginoso da cidade, visto através do olhar de quem trabalha diretamente com uma companhia que está inevitavelmente atrelada ao progresso do município,a Caern. Nesta entrevista concedida em seu escritório, José Ronaldo fala um pouco da vida pessoal, dos desafios de seu trabalho e da paixão que sente por Mossoró.

OM – Você veio para Mossoro em 1982. Como era a Mossoró dessa época?
JR - Sou de Caicó. Vim para Mossoró em 1982 quando entrei na Caern por concurso. Sou engenheiro civil e na época nem conhecia Mossoró. Vim, aqui fiquei e não pretendo sair. Era uma cidade bem menor do que hoje. Em termos de abastecimento d’água, a gente tinha um sistema que atingia pouco mais de um terço da cidade do que temos hoje. A cidade tinha em torno de 22 mil ligações. Hoje temos 66 mil. Mossoró cresceu em termos de abastecimento absurdamente. Naquela época, a cidade terminava no Abolição III. Não tinha Abolição IV, Santa Delmira, Redenção. O Alto de São Manoel estava em construção, o Planalto 13 de Maio era pouquíssimo, a região do Belo Horizonte era bastante restrita,. Ou seja, a cidade se desenvolveu nesse período intensamente em todas as direções. O trânsito era bem mais tranquilo, não tínhamos praticamente problemas. São outras características que hoje não existem mais.

OM - Mossoro era melhor ou pior?
JR - As facilidades da vida moderna, de certa maneira, se refletem na qualidade de vida. De outra maneira, a violência aumentou. O processo de crescimento trouxe muitos problemas para a parte urbana e social, acontece no país todo, mas acontece em Mossoró com intensidade porque a cidade passou por um crescimento muito grande nesse período. Quando cheguei aqui a Petrobras estava praticamente chegando, ela estava no começo e esse desenvolvimento que o petróleo trouxe, o setor de serviços desenvolveu-se bastante. Em fevereiro de 1982, isso estava muito no começo. O pagamento dos royalties na época, se não me engano, não existia e isso teve um impacto grande na cidade, mas não tinham o vislumbre da grandeza que teria no futuro.

OM - Você foi criado em Caicó. Como era a vida por lá, sentiu muita diferença quando mudou de cidade?
JR - Nasci em 1954 e fiquei em Caicó até 1966, quando fui pra Campina Grande e fiquei até o início de 74 quando me transferi pra Natal, onde cursei faculdade e lá fiquei até vir pra Mossoró. A infância praticamente em Caicó e a adolescência em Campina Grande. De Caicó pra Campina foi onde senti muita diferença. Caicó é uma cidade bem menor que Mossoró e naquele tempo era mais ainda, e Campina Grande naquela época já era importante na Paraíba, já era uma cidade bastante desenvolvida no setor de serviços, indústria, então o impacto foi grande.

OM - Mas você constituiu família aqui em Mossoró?
JR – Cheguei, fiquei aqui, casei, meus dois filhos e esposa são daqui, e como disse não pretendo sair.

OM - O que você viu em Mossoró que tem essa certeza toda de que não vai sair?
JR - Eu gostei da terra, me adaptei, gostei do povo, da maneira de ser daqui. Então não tenho pretensão futura de sair daqui. A cidade atende minhas necessidades, meus filhos nasceram aqui, estudam aqui, não precisaram sair pra estudar fora, e estamos muito satisfeitos com a qualidade de vida.

OM - Com essa paixão toda pela cidade, o que você mudaria e não mudaria no município?
JR - A cidade tem tido tanta evolução que de uns tempos pra cá tudo tem chegado aqui. Hoje você tem em Mossoró as facilidades que tem nas grandes cidades, claro guardadas as proporções. Tem que ver a questão cultural que é pequena ainda, mas também estamos perto de Fortaleza e de Natal, então é fácil você ter momentos de lazer nessas duas cidades. De uma maneira geral, Mossoró oferece tudo que precisamos, e mudança a gente sonha que ela tenha uma evolução na questão de trânsito, serviços, vias de acesso, e um melhor sistema de abastecimento d’água no que diz respeito ao meu trabalho.

OM - Falando em abastecimento, qual é a realidade na cidade?
JR - A cidade tem um desenvolvimento que exige investimentos pro futuro. Hoje o sistema de Mossoró já atingiu o limite do que é possível, qualquer crescimento que temos na cidade demanda investimento não só na oferta como no sistema de transmissão, as redes de abastecimento d’água, temos que ter investimento para melhorar a distribuição da água em si. Não é só trazer água e jogar na cidade no sistema que temos hoje. Temos um sistema antigo, muitas vezes obstruído com um diâmetro claramente insuficiente para atender a demanda. A gente precisa ter uma renovação desse sistema com ampliações em determinados campos e a implantação de novas redes principais de distribuição, isso é claro para atender as necessidades do futuro. A Caern terá que fazer isso porque é concessionária do serviço e terá que cumprira metas a respeito da melhoria do abastecimento d’água e da coleta de esgoto sanitário.

OM - É uma questão de tempo? O dinheiro existe?
JR - O dinheiro está aparecendo com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal que tem disponibilizado recurso. Esse ano vamos ter investimentos já iniciados de mais de 60 milhões de reais com contrapartida da prefeitura de Mossoró em torno de 33 milhões de reais , e vamos também ter a bacia nova de São Manoel através da Caern , um investimento de mais de 14 milhões de reais, além de 19 milhões de reais que estão sendo licitados pela Caern para setores como as lagoas de tratamento. E também está tendo recurso para investimento em água, os projetos estão sendo elaborados e brevemente vamos ter novidades.

OM - É possível prever quando Mossoró estará 100% saneada e com água encanada?
JR - O que podemos dizer é que o contrato de concessão com a prefeitura é que até o sexto ano depois da assinatura do contrato feito em 2005, ou seja, até 2011 vamos ter que ter 60% da cidade com a oferta de saneamento disponibilizado. Hoje estamos chegando a 40% do que está previsto. E até o décimo ano, até 2015, temos que estar com 80% da cidade saneada.

OM - Você acredita que o homem ainda vai brigar por água?
JR - Essa é uma discussão que perpassa o mundo todo. Existem países onde a oferta d’água é muito restrita. O Brasil é muito privilegiado, apesar de existirem regiões onde a água é difícil e cara. A Amazônia tem água demais e população de menos, por exemplo, já no Sudeste existe uma crise grande. Ma temos a água que, embora a um custo maior, nós temos como ir buscar. Temos que investir na eficiência da distribuição e redução de perdas. Uma crise no futuro, acredito que vai demorar muito mais do que como em países da África, Ásia, onde a situação é bem crítica.

OM - Mas poderá ser motivo de guerra como o petróleo é hoje?
JR - É. Já há cenários onde a produção de petróleo não acompanha o ritmo da demanda e ele está subindo de preço. Há países onde a situação da água é critica, não estamos nesse ponto, mas se não cuidarmos, certamente passaremos por situações difíceis.

OM - A água hoje aqui na cidade é cara ou barata?
JR - O que poderia se fazer é comparar o custo da água da Caern com a água distribuída no Brasil todo. De uma maneira geral, a água da Caern não é das mais caras, estamos numa posição confortável nesse sentido.

OM - Como é que está a qualidade da água em Mossoró?
JR - A água dos poços tinha um certo teor calcário que consolidava dentro dos tubos, gerando obstruções. Isso ainda existe, mais reduziu bastante esse tipo de problema depois que começamos a usar a água da Armando Ribeiro. Ao misturar a água dos poços com a da adutora, ela neutraliza esse problema. A adutora trouxe um reforço importante para Mossoró, ela representa 30% da oferta. Ao fazer a mistura nos reservatórios, a concentração de calcário diminui e as obstruções também.

OM - Mas a água que chega nas torneiras pode ser bebida?
JR - A qualidade da água é excelente. Há uma resistência na cidade por essa água das barragens, mas ela é usada no Estado todo. O manancial da Armando Ribeiro abastece de Riachuelo pra cá. A resistência é porque em Mossoró toda vida se teve água de poço, então as pessoas sentem a diferença. Ela pode e deve ser bebida, com os devidos cuidados, deve ser filtrada porque a tubulação está sujeita a outras intervenções.

OM - Existe algum projeto para a água vir com flúor?
JR - Não estou com esse dado agora, mas no RN boa parte dos mananciais tem um certo teor de flúor que não é nem preciso a adição. Aqui em Mossoró ainda não tem isso, mas é uma atenção que a gente tem que ter pra complementar o que for necessário.

OM - Se privatizassem a Caern seria melhor?
JR - Na verdade, nessa questão o que se tem que ter em mente é se a empresa, seja privada ou pública, presta um bom serviço, o que tem que ser discutido é a qualidade do serviço. A discussão pra mim é um pouco maior porque não tem essa conotação de ser melhor se for privatizada. Há excelentes companhias no Brasil que não são privadas, e há companhias privadas onde há muita reclamação. A conversa não deve ser levada por esse lado, porque a questão é a exigência da qualidade do serviço.

OM - A Caern presta um bom serviço?
JR - Aqui em Mossoró existe uma situação muito difícil de abastecimento que exige recurso. É esperar que venha investimento porque vai ter que ter para atender as necessidades da cidade, seja ela privada ou pública. A sociedade vai continuar exigindo cada vez mais uma boa prestação de serviço.

OM - Aqui a política é muito forte e o cargo que você ocupa é de destaque na cidade, nunca pensou em entrar para a política?
JR - Não. Eu sou um técnico. Claro que a política está na nossa vida, em qualquer parte, e é bom que seja assim, a nossa consciência tem que ser sempre presente nesse sentido. Mas sou exclusivamente técnico, não tenho vocação política nesse sentido, de disputar nada, porque não nasci pra isso.

OM - As horas de lazer você aproveita para?
JR - Eu procuro ficar o máximo de tempo possível com a família, gosto muito de ficar em casa e viajar nas férias.

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