domingo, 11 de maio de 2008

Quem é esse garoto?


O Mossoroense de 04 de maio


Williams Vicente



Ele é alto, branco, tem cabelos louros e uma forma compassada e calma de falar que só entrega o roqueiro nato que é pelas vestimentas. Um jeans e uma camiseta preta entregam que na terra do forró existe um rocker original.


Em seu sexto álbum, "Miraselva", Cezôca abre alas para a nova proposta na faixa "Tarde demais" convidando o ouvinte a um passeio pela verdade do bom e velho rock. "Corra, vá buscar o amor/ Saia, vá viver a vida/ Fuja da dor".


Do começo na década de 1970, quando o cantor e compositor Francisco César de Góis musicou a sua primeira letra, passando pelas dúvidas de se poderia ser ou não cantor, ele sempre teve certeza de uma coisa: que seria o rock o delineador de sua vida nessas três décadas de carreira.

"Eu sou um cara que batalha aí há bastante tempo. Desde criança eu gostava muito de música. Participava dos concursos “A Mais Bela Voz”, da rádio Rural, comecei a participar. Fui a mais bela voz na minha cidade (Felipe Guerra) e quando vi que podia fazer música, claro que fui estudar, entrei de cabeça, comecei a fazer minhas composições e conheci o Luiz GP Luz, um mossoroense radicado lá em Recife, entrei em contato com ele e fiz meu primeiro trabalho lá".

"Brasileiro", em 1989, "Minha Estrada", em 1992, "Triângulo Perfeito", em 1997, "Brasil de Uns e de Outros Não", em 2001 e "Presídios do Brasil", em 2005, são os álbuns anteriores calcados todos no rock e reggae "sem perder as influências de Zé Ramalho, Elba Ramalho e muita coisa da MPB" que antecedem e desembocam na atual sonoridade de "Miraselva".

"Uma homenagem à avenida de entrada de minha cidade. Parece que você está entrando em uma cidade grande. É uma avenida muito bonita, bem ampla e resolvi homenagear, aliás, sempre tenho homenageado a minha cidade nos meus discos".

Cezôca compôs e musicou todas as faixas do disco gravado em Recife, em março do ano passado. Sob a direção de Daniel Macedo e parcerias com Zé da Flauta (instrumentista, flautista, compositor e produtor musical. Em 2003, assumiu o cargo de coordenador de Música da Secretaria de Cultura do Recife), "Miraselva" tem pinta de anos 80, com um quê de new wave e hard rock, com cheiro de garagem e até tem espaço para uma de pitada de forró à Alceu Valença (aqui a miscelânea é interessante, mas as vezes destoa do resto do disco, porém nada que comprometa a integridade musical de Cezôca). Os ares de Recife são perceptíveis na voz e no rock do cantor

Cantado todo em português com aquele tom que ora lembra a marcação da Legião Urbana, ora passa pelo requinte do cancioneiro da MPB como o próprio Cezôca faz questão de frisar, "Miraselva" revela um homem com ar jovial (que ele guarda tanto musical quanto pessoalmente). Quem seria esse garoto?

Uma mistura de Morrissey com Djavan? "Estou ouvindo Bob Dylan tão amargo quanto eu". Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, Jimi Hendrix, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil, Gal Costa, Luiz Gonzaga são alguns dos deuses da música que inspiram Cezôca a falar de dor, ou de amor e de política. "O desemprego aumentou/ a culpa foi do PT/ A educação piorou/ Milhões que nunca vão ler e escrever" canta delineado pela guitarra em "Insegurança”.

O disco é encerrado em clima de nostalgia num lá lá lá iauê que remete e convida à terra-natal Felipe Guerra, lugar "para ver o verde da várzea coberto por uma concha azulzinha do céu".

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