domingo, 11 de maio de 2008

Entrevista: Maria do Socorro Cavalcanti

O Mossoroense de 4 de maio de 2008
Maria do Socorro Cavalcanti é formada em Serviço Social. Professora, poetisa, escritora, Socorro foi militante de causas sociais durante toda a vida. Hoje ocupante da cadeira 38 da Academia de Letras e Artes do Ceará (Alace) que pertenceu a Alberto Galeno, patrono de quem ela escreveu uma biografia que está no site da academia (HTTP/:academia-alace.vila.bol.com. br), veio a Mossoró lançar um concurso nacional "Alace valoriza à Cultura", oportunidade na qual concedeu esta entrevista onde fala da arte, de Cascudo, de prostituição e da saudade de Mossoró.

Williams vicente

OM - Por que você mora hoje em Fortaleza?
SC - Concluí Serviço Social em Natal e Cascudo, que à época já tinha fundado a Urrn (Universidade Regional do Rio Grande do Norte, atual Uern), me convidou pra ser diretora da Faculdade de Serviço Social e professora na Faculdade de Ciências Econômicas e Filosofia. Também coordenei um projeto do Unicef em convênio com a Universidade, que me transferiu para Recife e de lá para Fortaleza, mas não esqueço Mossoró.

OM - Você chegou a ser aluna de Cascudo?
SC - Sim, no meu primeiro Científico, ele era professor de História.
OM - E como era Cascudo?
SC - Ele foi sempre um homem dedicado às letras, às artes e estava envolvido em toda e qualquer ação que viesse beneficiar Mossoró e a Zona Oeste. Trabalhei com ele na pesquisa pro livro que fiz sobre um bispo aqui de Mossoró, dom Eliseu Simões Mendes. Cascudo é um homem que sempre deu sua parcela para qualquer área, sobretudo para educação. Cascudo me ajudou muito citando as fontes.
OM - É um livro biográfico?
SC - Também, mas destacando, sobretudo o trabalho que ele fez na zona Oeste, principalmente em Assú e Apodi, onde ele irrigou os vales.
OM - É seu primeiro livro?
SC - É o quinto. Têm outros voltados para área social que sempre me dedicado e tem um desse convênio com o Unicef que mostra um trabalho desenvolvido aqui em Mossoró. E é interessante dizer que tenho um livro que fala sobre a Prostituição na Perspectiva Social. Quer queria ou não, a prostituta que vive às vezes para sobreviver, ou outras que dizem que ama a prostituição, seja qual for a condição, ele é um ser humano, requer atenção, e é bom que cada um contribua para retirar essas pessoas desse meio ambiente, ou não podendo, tem que respeitar.
OM - Qual o resultado dessa pesquisa?
SC - Há de fato um preconceito muito grande, mas também há pessoas que reconhecem o valor do ser humano e passar a descobrir dentre elas pessoas dignas de chamá-las e engajá-las em movimentos. Quando o ser humano tem a oportunidade de mostrar seu serviço, parece que vê o mundo com outra perspectiva.
OM - É da época que você trabalhava no Unicef?
SC - Não, em Natal. Lá nas Rocas, que nessa época era o foco de prostituição e a coisa era tão séria que a gente só entrava na área com o auxílio de segurança. Isso foi no final da década de 1970.
OM - Prostituição definitivamente não vale a pena?
SC - Qualquer ação do indivíduo tem sempre uma causa, uma razão que deve ser estudada pra que a gente não corra o risco de julgar indevidamente.
OM - Mas quem faz por prazer, a gente pode dizer que não tem nada de errado?
SC - Cada ser humano é responsável, Deus deu livre arbítrio.
OM - Mas provavelmente a maioria não está lá por que quer, certo?
SC - Das 48 pesquisadas, só dois casos me disseram que amavam a prostituição. Quando a gente se aprofunda no estudo a gente vê que elas não amam, que a rejeição que elas sentem na carne diariamente levam a sair. O nome de uma delas, por exemplo, da que dizia que amava, eu não esqueço. Era Catota, quando bebia era presa. Ela dizia 'eu amo isso aqui, mas já estou pra deixar de amar' (rs), porque vivia presa.
OM - Algum dos cinco livros sobre Mossoró especificamente?.
SC - Não, mas esse do bispo focaliza Mossoró porque fala dos feitos de dom Elizeu e da participação da diocese na época, que foi de muita prosperidade pro progresso dos Vales do Apodi e Açu.
OM - E seu trabalho na Unicef como era exatamente?
SC - Era pra implantar aqui em Mossoró o Centro de Estudos de Integração do Menor à Comunidade, para trabalhar com os meninos de rua, depois com os mais pobres também. Existiam os voluntários e estagiários e foi um trabalho que mereceu atenção e o Unicef me levou a Recife pra implantar lá.
OM - Era para tirar essas crianças da marginalidade?
SC - O menor de rua todo mundo pensa que vai de imediato tirar, mas depende da complementação alimentar e os pais não colaboram nessa retirada porque a criança está "gerando" renda. Então a gente educava essa criança com vários cursos para que ela tivesse uma profissão. Nós conseguimos isso e convencemos muitos Estados do Nordeste a implantar essa experiência. Quando partimos pro Norte e depois pro Sudeste, a gente chegou lá no Rio e houve rejeição ao projeto porque eles não admitiam que o Nordeste tão pobre tivesse uma experiência adaptável à realidade deles.
OM - Os projetos voltados para o menor hoje teriam origem aí?
SC - Pode ser que sim, os conselhos tutelares estão aí como ramificação. Toda cidade tende a trabalhar, a lidar com essa população marginalizada.
OM - Como é que você foi parar na Academia de Letras e Artes do Ceará?
SC - Quando adolescente aqui em Mossoró escrevia alguns contos para Zé Maria Madri que era da rádio Difusora, depois ele voltou pra Natal e foi também a época que fui pra lá. Então, deixei, não me interessava tanto, mas lá em Fortaleza conheci algumas pessoas ligadas à Academia e aí freqüentei dois anos como ouvinte até aceitar o ingresso.
OM - Você tem livros de contos e poesias publicados?
SC - Não, estou escrevendo contos que creio que publicarei em 2009. Estou rabiscando um romance também, mas sem previsão.
OM - Mas você parece que gosta muito das biografias...
SC - A história de um modo geral me encanta e os feitos dos homens devem ser elevados de forma digna. Então, vamos contar a história, dizer quem são esses homens.
OM - Depois de ter andando por Natal, Recife, Fortaleza não pensa em voltar para Mossoró?
SC - Por Mossoró eu tenho paixão, é tanto que espero que algum mossoroense seja classificado no concurso da academia (ver site). Mas para residir aqui fica mais difícil por conta da Academia e outras instituições que colaboro lá em Fortaleza.
OM - Que visão você tem da cultura de Mossoró hoje?
SC - Apesar de estar morando em Fortaleza, quando venho aqui , eu diria que pelo menos comparando a época em que morava aqui, o crescimento é extraordinário. Mas está sempre a merecer de seus dirigentes a inclusão de algo mais. Essa motivação deve ser importante. Eu recebi um e-mail de uma senhora de quase 70 anos que dizia que tem mais de 300 poemas escritos e alguns contos, mas só para ela e alguns familiares. Então, a gente tem que incentivar através dos concursos, por exemplo.

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