sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Entrevista: João de Deus

Foto: Luciano Lellys
João de Deus Silva nasceu em Caraúbas, em 1949. Aventurou-se na por Natal, Recife e em setembro de 1972 adotou Mossoró como lar. Vindo de uma família de músicos, João de Deus se orgulha de ter criado os dois filhos com a sua arte: a música. Mestre das cordas, baixista de mão cheia, hoje ele domina a guitarra. Autodidata, João de Deus descobriu depois de um acidente uma nova maneira de encarar a vida. Tornou-se evangélico, mas não abandonou os acordes que o alimentam. Compõe, toca e ainda escuta Jimi Hendrix. Com o violão a tira colo, o músico concedeu a seguinte entrevista:




O Mossoroense – Como o senhor chegou a Mossoró?
João de Deus – Sai da minha terra e fui para Natal. Eu já era músico, tocava em banda marcial, e na capital senti muita falta da musica porque não conhecia ninguém. Lá eu fugia de casa para ver João de Orestes tocar no aeroclube. Conheci o pessoal e aprendi a tocar instrumentos de corda com João de Orestes. Até que tive problemas em casa e tive que sair fora. Passei pelos Terríveis, depois num grupo de Pernambuco e fui embora para Recife, onde morei mais de cinco anos. A mesma pessoa que me levou para lá, me trouxe para Mossoró para tocar num grupo chamado Som 2001, em setembro de 1972. Foi quando despertei para a guitarra. Ao chegar aqui um dos guitarristas saiu e sobrou uma guitarra. De lá para cá o que sempre fiz foi tocar.

O Mossoroense – O senhor sempre preferiu a guitarra?
João de Deus – Meu instrumento era contrabaixo. Vim tocar guitarra aqui em Mossoró, mas em todo canto o pessoal me conhece como contrabaixista.

O Mossoroense- E o repertório da época?
João de Deus – De Renato e Seus Blue Caps aos Beatles eu tocava tudo. Roberto Carlos estava despontando, sem falar nos grupos americanos e ingleses como Rolling Stones, The Mamas and The Papas, The Monkeys. A gente participava de muitos festivais de musica internacional e brasileira.


O Mossoroense – O senhor também compõe?
João de Deus – É uma coisa que nem sei explicar direito. Música é uma coisa que aparece. Eu não nasci poeta, versista, mas muitas coisas influenciaram como os festivais que participei acompanhando outros cantores que tocavam Chico Buarque, Caetano. Então a gente vai prestando atenção ao que cantavam e foi quanto me apareceu meu estilo próprio. Além disso, trabalhei aqui com cantadores de violas. Sempre que acontecia festival de violeiro, os repentistas viam ate a mim para alugar a aparelhagem e fui assimilando um pouco das coisas que eles cantavam que é a maior poesia que existe.


O Mossoroense – Como o senhor se definiria na música, o senhor é roqueiro?
João de Deus – Me considero mal educado. Não tenho estilo de música. De tanto escutar, de tanto tocar a gente vai diferenciando os estilos, mas nunca fui uma pessoa de estacionar numa coisa só. Para mim, musica é musica.


O Mossoroense – Mas o senhor tem ídolos?
João de Deus – Já tive. Era fã de Jimi hendrix. Para mim o maior guitarrista do mundo. Tudo que fizerem hoje de guitarra ele já fez, ele criava o som na guitarra.

O Mossoroense – E a música potiguar?
João de Deus – Depois que me afastei da vida noturna perdi o rumo da coisa, mas existem músicos bons. Sou fã de Iremar Leite, um poeta exímio com musicas como “Santo de Barro”, um hino dessa terra.

O Mossoroense – Como aconteceu esse afastamento?
João de Deus – Cai de um caminhão carregado de instrumento. Da queda só ficou inteiro o litro de conhaque. Quebrei bacia, perna e fui para no hospital onde houve um milagre. Os médicos diziam que eu ia passar três ou quatro meses no hopspital me tratanto, mas com 17 dias eu tive alta e ate hoje não sinto nada nesse sentido. Houve um despertamento. Deus estava querendo alguma coisa de mim e eu não estava tirando esse tempo para Ele. Fui entendendo qual era o plano de Deus na minha vida e a partir daí passei a trabalhar para Jesus.

O Mossoroense - Mas o senhor se arrepende da vida boemia?
João de Deus - Isso me deixou seqüelas. Hoje estou pagando um preço alto por causa de bebida. Mas vejo tudo isso como um degrau. É como subir uma escada velha. Essa escada tem alguns degraus que vão sustentar você e outros podres que quando você pisar quebram. Então a bebida foi um degrau podre na minha escalada, mas não sou de dizer que me arrependi. Muita gente diz que devia ter vindo para os pés de Jesus há mais tempo. Eu acho que tudo é no tempo de Deus. Eu tive que passar por tudo isso que passei para chegar onde estou. Se não, que testemunho eu teria de vida?

O Mossoroense - E a musica hoje?
João de Deus – Meu gosto continua o mesmo para a musica. Eu escuto Jimi Hendrix do mesmo jeito que escutava antigamente, muito jazz também. Eu gosto da musica boa. Hoje eu trabalho na musica evangélica, mas não posso deixar minha influencia se não vou estacionar. A musica evangélica hoje tem um campo muito grande, existem muitos músicos bons, coisas que quando me converti não eram nem permitido ouvir. Mas você vai vendo que a musica ela não tem culpa de ser música.

O Mossoroense - Não sente falta do baixo?
João de Deus - Gosto muito de baixo ainda. Se eu pudesse só tocava baixo e gaita de boca.

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