sexta-feira, 31 de agosto de 2007

O inventivo vendedor e seu sonho louco

A arte de embelezar sapatos que sustenta uma fábula secreta na mente do engraxate
foto:Luciano Lellys

A historia de Antônio Tiago Rodrigues, 23 anos, natural de Mossoró, confunde-se com tantas outras que talvez nem ele mesmo saiba ate onde vai a realidade ou a fábula do seu dia-a-dia.
Nasceu pobre, não conheceu o pai e por isso teve que trabalhar para ter o que comer e ajudar a família. Aos 12 anos Tiago deixou os livros de lado e partiu para as ruas para engraxar sapatos. Para ele, uma escolha. Antes o trabalho à fome e a marginalidade.
Os atropelos impediram a freqüência na escola, mas não o sonho de voltar a estudar. “Estava em Fortaleza com minha mãe, ela mora lá, e quando voltei fui fazer uma matricula na escola, na oitava série, mas a diretora da escola disse que não dava mais tempo, implorei pra ela e ela disse que não dava. Então este ano estou parado. Mas quanto mais cedo eu terminar, melhor pra mim, pra família. Penso em ter filhos, casar e ter uma boa renda. Ate uma professora minha me falou na Ficro que eu procurasse ela pra tentar uma escola, ou pelo menos garantir pro ano que vem. Eu quero pelo menos assistir aula ainda esse ano porque sei conversar, mas no sei escrever direito, não consigo completar as palavras”, lamenta. Tiago acredita que o pai poderia ter sido motivação na vida dele: “talvez eu não precisasse trabalhar, mas acho que isso é coisa de Deus”, desabafa.
Há um ano, no entanto, a vida de Tiago começou a melhorar. O trabalho como corretor de planos de saúde o encheu de expectativa. “Quando apareceu essa oportunidade não parei de engraxar sapatos. Já vendi de tudo, livros, propaganda, gosto de vendas”, disse.
O novo rumo despertou um talento que ele desconhecia. De manhã Tiago percorre a cidade fechando contratos e a noite veste o paletó e gravata para embelezar os pés dos clientes. Observador, ele adaptou o passa tempo dos salões de beleza para sua maleta de graxa. Revistas Playboy se tornaram diferencial e fidelizaram a clientela. “As pessoas têm curiosidade. São casados, não podem ver em casa, e aproveitam para dar uma olhada nas revistas enquanto engraxo os sapatos” diverte-se.



Quimera
Quem vê o engraxate na rua não faz idéia de onde ele quer chegar. Do sonho dele, até ele duvida, mas tem fé que vai se livrar do receio. “Todos nós temos sonhos e todo sonho é louco, mas se você não sonhar, não correr atrás dos objetivos não consegue nada. Quero me tornar uma pessoa feliz. Quero ser promotor”, revela.
O medo de Tiago não está na falta de recurso, na pobreza, na distancia temporária da escola. “Não tenho medo de sofrer preconceito, mas tenho medo de querer ser mais que os outros. Eu já vi exemplos de pessoas pobres que deixaram o poder subir a cabeça. Só quero acordar, abrir a janela e dizer ola amigo Deus”.

Um comentário:

Freddy Simões disse...

Gosto de histórias de pessoas batalhadoras que conseguem driblar os obstáculos impostos pela vida!