sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Entrevistada: Ricardo Francisco Fernandes Lopes

fotos: luciano Lellys
Natural de Pau dos Ferros, Ricardo Lopes se mudou para Mossoró aos seis meses de idade. Mossoroense de coração, o fotografo traz o amor pela arte no sangue. De uma família de artistas, o caminho profissional não poderia ser outro. Já fez de tudo para ganhar a vida, mas atração pelo olhar através das lentes falou mais alto. Hoje fotógrafo profissional, entre um click e outro Ricardo arranja tempo para planejar a realização de um projeto ambicioso, o Mambembe: Arte e Cidadania. Um carro transformado em bodega, biblioteca e estúdio fotográfico que ele quer levar para todos os municípios do Estado, documentando a liberdade de pássaros através de foto e filme.


O Mossoroense - Como você descobriu a fotografia?
Ricardo Lopes - Minha família toda é de artistas. Minha mãe é decoradora, meus irmãos desenham, pintam, e eu quando pegava uma revista desde criança ia direto nas fotos, na imagens. Na década de 80 viajava pras praias com meus amigos e comecei a fazer fotos e as pessoas iam gostando e daí foi que comecei a ter gosto pela maquina fotográfica. Comprei uma maquina a um amigo, comecei a me destacar mais, fazer mais fotos, fazer foto de família. Fui pra São Paulo, fiz um curso numa das escolas mais conceituadas de lá, a Focus, e fui me aperfeiçoando ate abrir o meu estúdio há dez anos.

O Mossoroense – E você sempre conseguiu viver de fotografia?
Ricardo Lopes - Já fui lojista, já tive um hotel em Tibau, uma casa noturna em Assú. Desde 1987 que faço trabalhos paralelos as fotos.

O Mossoroense – Isso quer dizer que você por um bom tempo pelo menos não conseguiu viver desse trabalho como fotografo.
Ricardo Lopes – Tinha insegurança. Não é fácil ter um comercio, por exemplo, e largar pra passar só pra fotografia.

O Mossoroense - Mas hoje você vive só de fotografia?
Ricardo Lopes - Hoje sim. Agora no dia 11 de setembro, que coincide com os atentados nos Estado Unidos, vai fazer 10 anos que abri o estúdio e vivo das fotografias.

O Mossoroense - Fotografa de tudo?
Ricardo Lopes - Meu forte mesmo que me deu mais nome foi book e casamento, mas tenho feito muita publicidade. Fotografei durante muitos anos crianças. Hoje faço pouco porque tem lojista daqui que tem laboratório e faz uma concorrência desleal porque cobra um valor irrisório, e por isso faço menos fotos de criança.

O Mossoroense – E por que você frisou o 11 de Setembro?
Ricardo Lopes – Coincidência. Foi um fato tão marcante. Abri anos antes o estúdio, mas no dia do aniversario dele é o dia dos atentados. Então todo ano eu marco essa data, porque de qualquer forma é uma vitória todo ano que você passa.

O Mossoroense – Hoje você tem um outro projeto além da fotografia. Um carro itinerante que você intitulou de Mambembe, Arte e Cidadania. Tem a ver com a fotografia? Do que se trata?
Ricardo Lopes - Tenho toda logística do Mambembe desenvolvida. Esse carro é um embrião do que quero fazer realmente. O projeto é andar o litoral e os municípios do rio grande do norte inteiro fotografando, e depois o Brasil. É um projeto com vários subprojetos dentro. Mas o que acho que vai despontar é fazer uma conscientização nas comunidades rurais e mostrar como a pessoa deveria agir: trocar pássaros presos por fotos. Nas cidades a gente não faria porque o pássaro teria um problema de readaptação, mas nas comunidades rurais sim. Então orientaremos, levaremos filmes mostrando as pessoas que alimentam os pássaros no terreiro. Então eles iam ter os cantos dos pássaros livres. Porque se supõe que quando as pessoas prendem o pássaro é porque eles querem o canto do pássaro pra eles. Eu iria filmar esses pássaros soltos, e o patrocinador adotaria o valor de um pássaro que seria um real, que é o valor de uma foto. E no fim de cada seis meses ou um ano eu teria uma projeção de quantos pássaros eu teria solto.

O Mossoroense - Tua família tem atores?
Ricardo Lopes - Eu tenho uma sobrinha atriz profissional que tem um circo cultural.

O Mossoroense - Daí o nome Mambembe?
Ricardo Lopes – É. Além de ser um nome quer me soa bem, eu tenho esse carinho pela arte, pelas raízes. A própria cultura mambembe, sempre gostei disso, de viajar, morei em vários lugares, em varias casas. Embora meu pai tenha essa casa há 40 anos, já viajei muito. Através desse projeto eu pretendo preparar uns filmes institucionais. Ao fim de tudo pretendo fazer um documentário, além de lançar algum livro de fotografia.

O Mossoroense – Você já visitou alguma comunidade, já fez algum teste?
Ricardo Lopes - Esse carro esta sendo montado há quase dois meses. O projeto Mambembe como está no papel, perdi a data de mandá-lo para Fundação José Augusto, mas vou mandar e ai assim este projeto estará realmente realizado. No carro vai uma brinquedoteca com brinquedos infantis feitos a mão, esses brinquedos do sertão; uma biblioteca com livros infantis para agregar, juntar pessoas. Vamos entregar isso às crianças para brincarem e no final do dia elas devolvem.

O Mossoroense – Isso inclui os cds e bonés anunciados nas pinturas do carro?
Ricardo Lopes - Aí é a parte de arrecadar para manter o projeto funcionando. Esse carro já esta pintando que é para chamar atenção dos patrocinadores. Vou colocar uma lojinha ambulante, A bodega do seu Lula que é uma homenagem ao meu pai que sempre teve comercio, para que eu vá arrecadando fundos pro projeto.

O Mossoroense – E já vendeu algo?
Ricardo Lopes - Já pus em dois ou três lugares, sempre com lembranças de Mossoró, uma coleção de cartões postais que fiz, e que tem um custo altíssimo. Tudo que eu vender, vou reverter para que eu consiga movimentar ate conseguir patrocinador. Quando eu começar mesmo a soltar os pássaros, que espero que isso aconteça em janeiro, vou ter toda uma filmagem. Se eu tiver dez mil reais, vou soltar dez mil pássaros.

O Mossoroense – Nada mais atual, não?
Ricardo Lopes – É. Nada mais atual do que a devastação, a biopirataria, o contrabando de animais que todos tentam e não conseguem acabar. É uma forma de a gente contribuir pra o equilíbrio da natureza para que a gente possa passar mais tempo na terra.

O Mossoroense - Como está seu arquivo fotográfico hoje?
Ricardo Lopes - Tenho o maior arquivo de fotografia cultural de Mossoró. Nos últimos anos eu fiz mais de 100 mil fotos no Teatro Dix-Huit Rosado, tudo de espetáculos.

O Mossoroense - Além de espetáculos como o Auto da Liberdade, O Chuva de Balas?
Ricardo Lopes - Isso, além do festival de folclore, o Festuern. Nem as pessoas do teatro assistem como eu. Esse ano eu meio que abandonei por desgosto porque não há uma valorização do trabalho. Já vendei fotos de espetáculo que a prefeitura nunca me pagou.

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