quarta-feira, 15 de agosto de 2007

LIVROS QUE RESISTEM À POEIRA DO TEMPO

Na contramão das leis de mercado, os sebos cultuam o prazer da leitura

Machado de Assis e sua Capitu ou Camões e suas poesias. Obras-primas que atravessam gerações ao alcance das mãos. Para isso, os sebos desobedecem às leis de mercado que empurram toda venda para o lucro. A idéia é estimular a leitura antes de tudo.
Num dos três sebos existentes no centro de Mossoró é possível passear entre mais de 15 mil títulos de livros usados, e novos também. São preciosidades da literatura e livros didáticos que guardam nas páginas amareladas as impressões e a memória de incontáveis leitores que manusearam os registros.
A proprietária de sebo Maria Fernandes de Oliveira há dois anos decidiu dar novo rumo aos livros que tinha em casa. Com o sebo ela mudou de vida. “Não dá muito lucro, mas é pelo prazer de trabalhar com a cultura. A gente trabalha por prazer, lidando todo dia com gente diferente.”
Livro usado não é sinônimo de livro descartado. Os sebos guardam obras bem conservadas e, principalmente, raridades. Para manter a paixão pelo livro viva Maria Fernandes não fica parada, esperando pelas permutas dos exemplares. “Como as pessoas não têm muito o hábito de procurar livro em sebo em Mossoró, compramos mais em sebos de outras cidades e títulos novos em feiras de livros também.”
E o que é melhor: dinheiro nesse caso nem sempre será desculpa para evitar o contato com as letras. Num sebo, difícil é não se contagiar pelos livros tocados pela poeira da sabedoria.
foto: Habner

“A gente tenta todo dia convencer alguém na rua a negociar. O sebo é o lugar para negociar. Uma obra sai daqui trocada por outra, por exemplo. Daqui o cliente não sai sem livro.”

Um comentário:

Freddy Simões disse...

Houve uma época em que eu era bastante adepto dos sebos. Aqui em Recife tem vários, mas o meu preferido fica próximo à Igreja da Imperatriz. É interessante essa coisa de adquirir um livro usado, pois é como se o mesmo carregasse, além do conteúdo propriamente dito, um pouco também da história daqueles que o manusearam. Sem falar nas raridades possíveis de se encontrar: eu consegui adquirir num sebo, há alguns anos, o livro "O estrangeiro", de Albert Camus, que estava totalmente escasso nas livrarias.