sábado, 27 de outubro de 2007

A força da prece do professor Vingt-un Rosado



Embora longe do ideal, o público mossoroense decide que vale a pena freqüentar os eventos culturais


Williams Vicente


Se Mossoró um dia pretendeu ser a capital nacional da cultura e perdeu, o povo já pode ostentar ao menos o título de capital da cultura potiguar. Do dia 10 de outubro a este domingo, 28, a cidade que tem Resistência e Pioneirismo como sobremones, transferiu as atenções do Estado para cá, com dois eventos que merecem respeito e aplausos: o V Festival de Teatro da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (Festuern) e a III Feira do Livro.


A cidade que padece de poucas opções de entretenimento percebeu que apostar na cultura pode ser o caminho certo para fortalecer o pensamento e educar os sentidos. Embora atrelado à esfera institucional, o que, de certa maneira, se não bem aproveitado, ou não aproveitado conscientemente, possa dissipar e evaporar suspiros da qualidade subversiva e, por isso, promotora de independência e revelação do gesto artístico, os eventos dão sinais de que o mossoroense está disposto a fazer jus à alcunha de referência cultural.


As intervenções no cotidiano marcaram a cidade como ferro em brasa. A sociedade resolveu abrir a janela e perceber que cultura se tece. E quando se fala em cultura é preciso compreender que não se trata da mera contemplação de objetos. Qualidade de vida não se conquista sem legado artístico.



O PATERNON É AQUI

De um lado, o Festuern e seus alunos de 39 escolas públicas do Estado transformaram o palco do Teatro Municipal Dix-huit Rosado num mosaico que desenha o futuro. De William Shakespeare a Maria Clara Machado, as adaptações e encenações transpuseram o "amadorismo" das atuações. Os benefícios do teatro não se limitam à melhoria do desempenho escolar, mas também, do comportamento e mentalidade. Relatam os professores que além de melhorar a prática da leitura e por conseqüência, as notas, os alunos, na maioria deles de baixa renda, encontram no teatro um forte fator de socialização.


Por outro lado, apesar de eventuais falhas cerimoniais e/ou estruturais, a Feira do Livro cumpre o papel de promover a difusão do conhecimento via livros, palestras e oficinas. A quantidade de autores de fama nacional, além dos literatos locais, revela o crescimento do interesse pela educação. Em entrevista publicada na revista Preá de 3 de setembro de 2003, o professor Vingt-un Rosado respondia o que desejava para o futuro cultural de Mossoró: "Eu pediria a Deus que mandasse um recado para as estrelas, pedindo aos meninos que descessem (risos), para poder assistir aos lançamentos dos livros e que, em vez de comprarem dez, comprassem vinte livros (os 'meninos' são os quase dez mil universitários e professores mossoroenses que não aparecem nos eventos culturais da cidade)". Independente dos números que resultem desta feira que termina hoje, as preces do professor parece que foram ouvidas e os mossoroenses estão pensando em levantar das cadeiras de bar, ou saírem da frente da TV para ler um livro.

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