terça-feira, 8 de abril de 2008

Enchentes deixam duas mil pessoas desabrigadas em Mossoró

Williams Vicente
FOTOS: Habner Weiner



Rocélia (de rosa)


"Fui dormir e acordei com a água dentro de casa", conta a dona-de-casa Rocélia da Costa, uma das cerca de duas mil pessoas desabrigadas pela cheia do rio Mossoró, segundo contabiliza a defesa civil. Rocélia e seus três filhos, todos pequenos, o marido e mais quatro famílias estão alojadas numa mesma sala no abrigo improvisado na Escola Professora Celina Guimarães Viana, no Barrocas. A cena é de domingo, dia 6, às 16h. As águas do rio Mossoró estão a mais de dois metros acima do nível normal.

Rocélia conta que dos poucos móveis que tem só conseguiu levar para o abrigo a televisão. Nesta sala, as crianças estão doentes e enquanto Rocélia aguarda pelo jantar providenciado pela prefeitura, diz que falta leite para as crianças. Uma assistente do local se apressa em dizer que o leite foi pedido e está chegando. Rocélia conta que levou os filhos no pronto-socorro e que foram medicados, mas que pelo local nenhuma equipe médica havia passado.

Ao lado dela, Francisco de Souza diz que trabalha à noite e ainda no sábado decidiu correr para o abrigo com a esposa e os dois filhos porque esperava pelo pior quando chegasse em casa logo cedo. Ele teve mais sorte que Rocélia porque antes da tragédia deixou os móveis na casa de parentes.

Resignação no Paredões

Eles são apenas dois exemplos das 400 famílias que tiveram as casas alagadas ou abandonaram o lar antes que a água chegasse à porta. Cerca de 50% estão dormindo nos abrigos e o restante na casa de parentes. "Minha casa virou um hotel", revela a estudante Marina Medeiros, que estava neste domingo ajudando a avó que mora na região do Pantanal, no Alto da Conceição, a mudar de endereço. A prefeitura decretou ontem estado de calamidade no município.


A espera de um milagre no Pantanal



Segundo a gerente de Desenvolvimento Social, Fátima Moreira, que coordena os trabalhos de socorro às vítimas da enchente, a prefeitura está providenciando o alojamento das famílias desabrigadas, inclusive alimentação. "A determinação da prefeita Fafá Rosado é que o governo municipal não deixe ninguém desamparado neste momento", diz.




Paredões


Deputada federal Sandra Rosado visita abrigo nas Barrocas


São 45 locais usados, entre escolas municipais e estaduais e unidades de assistência social transformadas em alojamentos. Além disso, três armazéns estão recebendo os móveis das famílias e são devidamente cadastrados para devolução quando a enchente cessar. De acordo com Fátima Moreira, a prefeitura fará o levantamento dos prejuízos quando as águas abaixarem e irá contribuir para os reparos. Por enquanto, ela diz que família nenhuma perdeu móveis e utensílios porque tudo foi retirado a tempo. Fátima conta ainda que há quatro equipes médicas formadas por enfermeiros, assistentes e médicos visitando os abrigos e amparando os doentes.

Salve-se quem puder no Pantanal

Crianças se divertem no Pantanal



Em lugares como o Pantanal, havia casas quase encobertas, crianças subindo em postes e mergulhando na água suja e famílias aflitas fazendo a mudança por conta própria porque, segundo elas, os carros da prefeitura demoravam a chegar. A estudante Natália da Silva e seus dois filhos, a mãe e dois tios eram algumas dessas pessoas que estavam fugindo da cheia. Á água chegava a metade da porta da casa deles. No abrigo para onde foram encaminhados, o colégio José Pereira Lima, somente no corredor de entrada havia seis famílias alojadas desde o sábado.

Travessia na Ilha de Santa Luzia




No caminho da Ilha de Santa Luzia, a praça Kênia Felipe estava transformada em piscina. Dentro da Ilha, nas imediações da rua General Péricles, a população evacuava às casas com a água na cintura.

Praça de lazer Kênia Felipe, Centro

Travessia na ILha




Bem longe da região ribeirinha, no Redenção, na manhã de domingo, o riacho do local de repente subiu e inundou a rua ministro Tarso Dutra. A moradora Maria Aparecida conta que "graças a Deus, como isso já tinha acontecido, houve tempo de erguer os móveis".






Também no domingo, a deputada federal Sandra Rosado visitou estas comunidades ribeirinhas e também o bairro Paredões, a região da barragem de baixo e da antiga estrada de ferro. Por onde passou, levou solidariedade e disse que estava fazendo um levantamento da situação para interceder junto aos governos estadual e federal.

Força tarefa do Exército no Pantanal


Trânsito tomado por mudanças


O que se viu por toda a cidade nesta caminhada em pleno domingo era trânsito intenso com carros para todos os lados carregados de móveis. Na segunda-feira, o trânsito foi interditado na ponte do Complexo Viário Vingt Rosado, no Alto da Conceição porque a água cobriu a passagem.
Fátima Moreira conta que a prefeitura disponibilizou 40 carros que estiveram nas ruas até as 2h30 da madrugada de segunda-feira socorrendo as vítimas. Por volta de 300 voluntários estão envolvidos na operação. Às 18h30 de ontem, a lâmina da barragem do centro do rio Mossoró estava a 2,4m acima do normal. "Está tudo sobre controle", finaliza a coordenadora da defesa civil, Fátima Moreira.



Medição do nível da água na barragem do centro do rio Mossoró na tarde de domingo

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