domingo, 27 de abril de 2008

Hip Hop e a música com sabor de rapadura

Rapadura híbrida com sabor de anos 80 tempera o disco pop do ano

“Hard Candy”, o décimo primeiro álbum da cantora Madonna, chega às lojas brasileiras e da Europa amanhã

Por Williams Vicente

O novo álbum de Madonna, “Hard Candy”, previsto para chegar às lojas brasileiras e do resto do mundo amanhã (nos Estados Unidos na terça, 29) vazou no final de semana passado na internet. A chegada precoce foi marcada pela guerra de palpites fervorosos entra os fãs e a crítica. Como sempre acontece com os lançamentos da maior representação musical pop que existe no mercado, os especialistas do universo musical se dividem entre os que preferem o disco anterior e os que dizem que o novo é bom.

Madonna apesar de não fazer parte do universo regional diretamente, merece sempre destaque nas análises da imprensa porque é a partir do que ela lança que vamos consumir o que o pop no resto do planeta seguirá. É assim na sonoridade e no visual. Quem não viu Joelma travestida de Madonna na Companhia do Calypso? Adriana Calcanhoto regravou a genialidade minimalista de “Music”, transformando-a em sonoridade tupiniquim e o DVD ao vivo de Ivete Sangalo sugou a superprodução ditada pela cantora americana. Aqui em Mossoró teria até a Thabata com ares madonnescos...

Deixando algumas comparações infelizes para além, “Hard Candy” (doce duro ao pé da letra, ou rapadura para bom entendedor) ganhou esse nome pela paixão por doces da cantora e agora adquire uma conotação depois do lançamento que talvez a própria Madonna não esperasse, nem irá entender a brasilidade da livre interpretação: rapadura é doce, mas não é mole, não!

A revista americana Rolling Stone, principal publicação sobre música e cultura Pop do planeta recebeu bem o disco. Por aqui, os resenhistas andam quebrando os dentes para entender, degustar e se desprender do mito que persegue a cantora de que depois de um disco excelente (é o caso do álbum passado lançado em 2005, “Confessions on a Dance Floor”) vem um ruim. Faz sentido. Aconteceu com American Life, por exemplo.

Mas não é regra. Antes de mais nada os críticos cobram novidade sonora eternamente. É verdade que “Hard Candy” é novo para Madonna, mas não para o pop. Delineado pelo hip-hop, a dúvida que paira é se o disco só fará as pazes da cantora com o mercado americano, reduto do gênero, ou se ela soube aproveitar o investimento no estilo para gravar algo realmente interessante. Dúvida que vai se desfazendo depois de algumas audições. "Hard Candy" vem como sucessor de "Confessions on a Dance Floor", que estreou em primeiro lugar nas paradas de 30 países e na era do download grátis vendeu mais de 8 milhões de cópias.

No novo disco, Madonna continua focada no clima club e acende as raízes do passado que mandam sinais de fumaça da vida urbana em Detroit e do começo em Nova Ioque para uma noite habitada pela batida hip hop em parcerias com artistas como Timbaland, Justin Timberlake, Pharrell Williams (do Neptunes) e Nate "Danja" Hills. Todo mundo esperava que ela transformasse o hip hop para não parecer com as outras cantoras pop que descambaram por esse lado como Nelly Furtado. Com esta, para não mentir ou omitir, há uma farpa de parentesco nos maneirismos vocais e arranjos de “Heartbeat”, nada que comprometa a originalidade do disco na obra de Madonna ou que dê cabimento para é “mais-do-mesmo”. Não há uma transformação. Há uma reafirmação do casamento pop-hip-hop e o disco não parece nada com a concorrência.

É uma miscelânea de elementos que estão custando caro aos ouvidos apressados. Se “Confessions...” mantinha uma unidade sonora do início ao fim e é o que se espera dos discos para taxá-lo de bom, as canções de “Hard Candy” bebem da hibridez que distancia uma faixa da outra e confunde o ouvinte. Com disco music, electro, vocoders, muito sintetizador e bateria programada as músicas não se comunicam, mas também não se trumbicam.

Trata-se do resgate da linha oitentista revestida da atualidade da eletrônica. Os discos da cantora nos anos 80 não seguiam exatamente uma estética sonora única. As faixas eram como estas de hoje que tinham força por si só. Para entender, escute a estréia “Madonna” e para ir mais além, absorver o doce poder de “Hard Candy”, ouça “Like a Prayer”, o álbum.

O disco está cheio de contrastes e embora não seja revolucionário tem frescor de inovação. A idéia é dar um ar futurista e ao mesmo tempo retrô, club, é algo pólis. Nessa miscelânea de conceitos, o disco não chega a ser genial, mas ficará na casa da nota 9 pela simplicidade e doçura das melodias que tem até um quê de despedida (tomara que seja só da Warner – “Hard Candy” é o último disco dela lançado pelo selo). O encarte é a única parte que deixa a desejar. Madonna acerta no conceito pugilista na capa, porém peca no resto do ensaio perdendo força com uma certa tristeza transparente no olhar e um ar de senhora que não condiz com a jovialidade do álbum.

A onda de decepção que o disco tem provocado se resume ao fato de que as análises em cima das obras dela são precedidas da imposição midiática de que venham recheadas de vanguarda. Dessa vez, Madonna esteve despretensiosa, e mesmo que tenha havido a intenção de inovar contraditoriamente usando os elementos já conhecidos, o disco soa diferente, alto astral e não há motivos para jogá-lo no limbo.

Faixa a faixa
1. "Candy Shop"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes.Canção que, além de explicar a temática adocicada do álbum, também já convida os ouvintes ao ritmo dançante que será explorado no disco. Ouça o álbum “Like a Prayer” e entenda a batida quebrada da música.
2. "4 Minutes"
Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake, é o primeiro single do disco e passa longe de ser a melhor faixa. Traz aquele pancadão funk e é a mais hip-hop de todas.
3. "Give It 2 Me"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. De longe a melhor. Disco, sintetizadores, universo electro que dá o tom da faixa. Poe qualquer pessoa pra dançar. “Não é o começo, nem o fim” como diz a letra.
4. "Heartbeat"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Pancadinha hip hop marcante, melodia fácil, agudos anos 80. E vá dançar.
5. "Miles Away"
Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, possivelmente fala da relação dela com seu marido Guy Ritchie quando viviam em continentes separados é repetitiva, mas tem a cara das baladinhas deliciosas que embalam aos dores de cotovelo.

6. "She's Not Me"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. A forma que ela encontrou de dizer que igual a ela não existe ninguém. Uma guitarra dá gingado a música, com elementos do groove que desembocam num remixe fantástico de si mesma
7. "Incredible"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Sonzinho de cobra ao longo da faixa a deixa como a mais fraca do disco, paquerando os adolescentes e com uma certa confusão nas camadas. Leve nuance funk dá uma salvada no som.
8. "Beat Goes On"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Uma surpresa para quem já tinha ouvido esta faixa na época em que vazou, no final do ano passado. Com outros arranjos e tranqüila, a faixa é tudo que Michael Jackson gostaria de gravar. Perfeita.
9. "Dance 2night"
Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake .O baixo marca a faixa que pode ser considerada a mais black.
10. "Spanish Lessons"
Escrita por Madonna e Pharrell Williams, produzida por The Neptunes. Parece confusa, mas não é. Tem um certo excesso de elementos, porem graciosa como as musicas e influencias latinas que ela costuma usar. Dançante.
11. "Devil Wouldn't Recognize You"
Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Timbaland, co-produzida por Nate "Danja" Hills, com vocais adicionais de Justin Timberlake. Aquela baladona. Como já disse noutra ocasião, as baladas dela são impagáveis. Outra black que Michael gostaria de ter gravado. Passa longe da pieguice da concorrente Mariah Carey.
12. "Voices"
Escrita por Madonna e Justin Timberlake, produzida por Nate "Danja" Hills, co-produzida por Timbaland, com vocais adicionais de Justin Timberlake. "Hard Candy" termina com Justin Timberlake perguntando: "Who's the master and who's the slave?" (na tradução livre, "quem é o mestre e quem é o escravo?"). É outra meia balada com pinta de etéreo.



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