terça-feira, 15 de abril de 2008

Sem-terra invadem Secretaria de Tributação



MST ocupa secretaria municipal de tributação

PRISCILLA DUTRA

Adriana Morais


O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) "Brasil Novo" acampou na manhã de ontem no pátio da sede da Secretaria de Tributação da prefeitura de Mossoró, Centro. Cerca de pouco mais de 150 pessoas participaram da mobilização. O objetivo era conseguir uma audiência com a prefeita Fáfa Rosado.
Membros do MST que estavam no evento se recusam a falar com a imprensa. Para eles, a mídia não está apoiando as reivindicações deles. A única pessoa autorizada a falar pelo grupo é Damião Israel, 34, que se diz representante das famílias.
Segundo o representante, a mobilização tem a finalidade de conseguir uma reunião com a prefeita para cobrar assistência aos assentados e acampados no Carajás II (antiga Fazenda Maisa). De acordo com Damião Israel, há mais de um mês a prefeita prometeu dar uma maior assistência ao MST, mas até o momento não apresentou qualquer serviço.
"Nós iremos pressionar a prefeita até ela nos receber. Até hoje nunca conseguimos nos reunir diretamente com ela. Sempre quem fala com a gente é um secretário. Não queremos mais intermediário, todos eles só fazem prometer e logo esquecem o que nos disseram, a gente tenta falar com ele, mas nem nos receber nas secretarias para explicar porque não estão cumprindo as promessas recebem", disse.
Damião Israel relata que entre as principais reivindicações do Movimento estão serviço de água regular, criação de creches e aumento do número de escolas de três para no mínimo quatro, oferta de iluminação pública e equipamentos como tratores para contribuir com agrovilas.
Outros problemas apontados pelo representante é que com as chuvas famílias perderam plantações inteiras e muitas pessoas estão doentes, doenças típicas do período chuvoso como virose e dengue, sem assistência médica, vez que no Carajás II não há qualquer órgão municipal que atenda aos moradores.
"Tem gente passando todo tipo de necessidade no Carajás. Somos mais de 1,4 mil famílias assentadas e 600 acampadas sem receber qualquer assistência nem mesmo para as que estão doentes. Isso não pode continuar assim. Queremos e devemos ser respeitados como gente", afirma.
Apesar do Grupo Tático de Combate (GTC) do 2º Batalhão de Polícia Militar ter sido acionado, não houve confronto com os sem-terra. Sem a perspectiva de serem atendidos, os manifestantes trouxeram para o "acampamento" malas com roupas, comida e utensílios de cozinha.
Manifestantes retornam aos assentamentos sem qualquer posição concreta da Prefeitura
Após ser informados que não poderiam ser recebidos pela prefeita Fafá Rosado, os manifestantes aceitaram ser atendidos por seus representantes. Desse modo, no início da tarde de ontem, oito representantes do movimento se reuniram com o chefe do gabinete da prefeitura, Gustavo Rosado, com o intuito de debater as reivindicações dos sem-terra, apresentadas na última reunião.
Gustavo Rosado informou que a prefeita Fafá Rosado estudou as reivindicações feitas pelos assentados e irá apresentar sua posição num próximo encontro com os manifestantes. O secretário adiantou que da lista algumas solicitações não serão atendidas no momento.
O secretário afirmou que a resposta aos pedidos feitos pelos representantes dos integrantes do MST não foi dada antes devido aos problemas com as chuvas, mas garantiu que em até quinze dias haverá uma reunião onde a prefeita irá dizer o que vai ser feito pelos assentados e quando iniciarão as obras.
"Essa reunião já deveria ter acontecido, no entanto, devido aos problemas que o município está enfrentando por causa das chuvas, o adiamos. Na próxima reunião diremos o que será possível fazer para atender às solicitações feitas para os assentamentos, mas não podemos fazer tudo de uma vez, devido às limitações de recursos. Com os estragos causados pelas chuvas, gastamos com despesas que não estavam previstas e neste momento a prioridade é atender aos desabrigados e combater o foco da dengue", afirma o chefe do gabinete.
Após a reunião, a prefeitura disponibilizou quentinha para os manifestantes e um ônibus para levá-los de volta aos assentamentos. De acordo com Damião Israel, a reunião não atendeu às expectativas. "A gente se sente discriminado pela prefeita, que nunca nos recebe. Espero que na próxima reunião não fique de novo só nas promessas. Vamos dar mais um voto de confiança, mas se não tivermos nenhuma resposta concreta, faremos uma manifestação maior, com mais pessoas", afirma.
Saiba mais sobre o Movimento Sem-terra (MST):
O Movimento Sem-Terra (MST) surgiu no país a partir da necessidade de promoção da reforma agrária (distribuição de terras de forma justa). Tendo como lema pessoas que não possuem terras para plantio organizaram um movimento de protesto contra a centralização de terras nas mãos de poucos.
Como forma de reivindicação e de fazer valer a reforma agrária, o MST ocupa os latifúndios e se mobilizam em massa, sendo que ao longo dos anos abrangeu de outras lutas sociais em busca dos direitos humanos. Em outras palavras, O MST traduz o direito do homem de ter seu espaço para morar e retirar o sustento evidenciando a ocupação improdutiva de terras.
Atualmente o movimento conta com cerca de 400 associações de produção, comercialização e serviços; 49 Cooperativas de Produção Agropecuária (CPA), com 2.299 famílias associadas; 32 Cooperativas de Prestação de Serviços com 11.174 sócios diretos; duas Cooperativas Regionais de Comercialização e três Cooperativas de Crédito com 6.521 associados. As conquistas atingiram proporções internacionais no dia 17 de abril de 2002, quando foi criado o Dia Internacional de Luta Camponesa.
Um ponto discutido com relação ao Movimento é que há pessoas que se infiltram nele com a intenção de enganar o poder público e os próprios manifestantes para obterem "terras".

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